Valor Econômico – Elefante Branco

Rodrigo Uchoa

A linha branca é a mais preguiçosa entre as categorias de eletrodomésticos. Os celulares e televisores inteligentes, protagonistas da onda de automatização residencial, assumiram a posição de “centros de conectividade” da casa. As geladeiras, fogões, micro-ondas e máquinas de lavar, por outro lado, ainda vão muito pouco além do gelar, assar, esquentar e enxaguar – e não é por falta de interesse do consumidor.

Essa é a conclusão da pesquisa focada nesses quatro eletrodomésticos desenvolvida pela consultoria CVA Solutions com mais de 6 mil mulheres de todas as regiões e classes de renda em novembro de 2011. A parte qualitativa do estudo mostra que, na percepção das entrevistadas, as inovações da indústria ainda não chegaram na cozinha.

“O celular virou um acessório de mobilidade, a TV, um gerenciador de entretenimento”, diz Sandro Cimatti, sócio-diretor da CVA Solutions. “A linha branca ainda precisa desenvolver sistemas inteligentes de automatização de processos, assistência ao usuário e gerenciamento do espaço doméstico”, completa.

A geladeira, ainda segundo Cimatti, é a candidata natural a assumir essa função de comando inteligente da cozinha. A pesquisa aponta que, entre as novas atribuições, ela poderia ter um sistema de sensores que alertasse sobre o prazo de validade dos mantimentos e que mudasse a temperatura e umidade de determinados estratos para conservar melhor frutas, verduras e legumes. Ou um sistema para gelar bebidas rapidamente sem congelá-las (os compartimentos extra-frios e os porta-latinhas ainda não fazem isso), um monitor de oled (material fino, flexível e de baixo custo) com acesso à internet e um organizador de estoque na forma de um leitor de código de barras – que registra tudo que entra e sai, faz a lista de compras e envia para o site de delivery do supermercado.

Para Cimatti, essas mudanças acontecerão, mas de forma lenta e paulatina. Por causa da própria vida útil dos componentes de linha branca – bem maior que a dos gadgets e da linha marrom, por exemplo -, mas também pela característica de origem das líderes de mercado, Whirpool e Electrolux, que “não têm tradição de trabalhar com chips”.

A pesquisa quantitativa específica sobre lavadoras indicou um ruído na “hegemonia da Whirpool”, uma tendência que ainda não tinha aparecido em estudos anteriores. A Brastemp, principal marca do grupo, aparece como líder absoluta em quase todos os quesitos. Ela está em 44,5% das residências pesquisadas – a Electrolux aparece em segundo lugar, com 26,2% -, é lembrada por 88,6% das entrevistadas e considerada a melhor por 60,9% (a Eletrolux, novamente vice, chegou a 16,3%).

Todos esses percentuais, de acordo com Cimatti, referem-se à “atratividade líquida”, à força das marcas. Na avaliação de “valor percebido”, que mede a ideia de custo-benefício das proprietárias dos equipamentos, a LG, que é conhecida por 24,5% das consumidoras da pesquisa e considerada a melhor por apenas 2,5%, passa à frente de todas as marcas.

“Isso quer dizer que a empresa ainda é pouco conhecida, mas muito bem avaliada por quem experimenta seus produtos”. Para Cimatti, a concorrência deve ficar atenta. “O desempenho da LG na pesquisa chama a atenção porque a empresa estreou nesse segmento no Brasil há muito menos tempo que as rivais, só com importados, e logo deve começar a produzir internamente [a empresa anunciou a compra de uma planta em Paulínia (SP) no fim de 2010 destinada à produção de eletrodomésticos]”.