Maire Claire – Pesquisa revela que mulheres são menos felizes que homens

Desigualdade salarial entre gêneros e falta de reconhecimento no trabalho são principais fatores

Mulheres são menos felizes que os homens e a origem desse problema muitas vezes está relacionada ao trabalho, segundo uma entrevista realizada neste ano pela CVA Solutions e TheWill2Grow. O estudo sobre felicidade e profissão foi feito com 5.200 pessoas com mais de 18 anos nos 27 estados brasileiros.

“A vida familiar, a saúde e a vida amorosa ajudam as pessoas a elevar a sua felicidade geral. Quando analisamos o percentual de pessoas felizes com sua vida em geral temos 65% do total. Pessoas felizes com sua vida familiar ou sua saúde temos mais de 70%. Já analisando pessoas felizes com o trabalho ou profissão temos 44%. Nos homens a satisfação com o trabalho é de 49% e nas mulheres é de 39%”, conta Patrícia Serra, executive coach da TheWill2Grow.



Um dos principais fatores para essa infelicidade feminina no âmbito profissional está relacionado à renda inferior ao do colega do sexo masculino. Apenas 26% das mulheres estão felizes com seu salário. “Os dados da pesquisa mostram que, na média da população brasileira, os homens tem renda familiar 17% maior do que as mulheres. A partir de R$ 4.400, homens podem chegar a ganhar 4 p.p. a mais do que as mulheres. Em cargos de gerência encontramos homens que ganham 16% a mais do que mulheres e em cargos de diretoria, essa relação sobe para 39%”, explica Serra.



“De forma objetiva, a remuneração e benefícios têm mais impacto na felicidade da mulher do que outras variáveis do trabalho. Tanto para homens quanto para mulheres salários e benefícios representam 70% da satisfação com o trabalho. Os 30% restantes são aspectos que chamamos de atributos do trabalho: oportunidades de carreira, stress, relacionamento com o chefe, treinamentos, orgulho da empresa e autonomia.”

Para as mulheres, a falta de reconhecimento profissional também interfere no cenário de infelicidade. Apesar do total de mulheres que concluíram o nível superior ou pós-graduação serem maior que os homens, são eles que têm mais representatividade em posições de gerência e responsabilidade por equipes de trabalho. Somando 27,4%, enquanto as mulheres somam 21,2%.

“Os atributos do trabalho em que as mulheres estão menos satisfeitas que os homens são principalmente em decorrência à falta de oportunidades na carreira, mau relacionamento com chefes, tempo dedicado ao trabalho e stress gerado por longas jornadas”, diz Serra.

A psicóloga Ana Franco, que tem experiência em gestão de pessoas, explica que o descontentamento profissional tem gerado grandes problemas no ambiente de trabalho. “Doenças psicossomáticas são cada vez mais comuns no ambiente corporativo, atingindo proporções gigantescas devido as questões de natureza afetiva, emocional e relacional. A vida profissional tem impacto direto na autoestima da mulher, pois refere-se a identidade dela. É como ela é reconhecida na sociedade em que está inserida. Sua profissão diz respeito às características pessoais, gostos, habilidades e competência profissional”, analisa.

Franco ressalta que muitas das doenças físicas que geram afastamento do trabalho advêm do emocional. “Quando a mente não está saudável, o corpo dá sinais de que algo não está bem. Um resfriado, dores de cabeça, até evoluir para algo maior. Isso compromete diretamente a alegria e a felicidade, evidenciando um ciclo vicioso nada saudável. A ausência de psicólogo ou coaching para dar um apoio ao profissional contribui para números cada vez maiores de afastamentos médicos.”

SOLUÇÃO

Reduzir essa insatisfação feminina em relação ao trabalho deve ser uma das preocupações das empresas, segundo a psicóloga. “As empresas devem criar programas de cargos e salários que contemplem políticas de igualdade de gênero, pautados pelas competências essenciais que a empresa sustenta baseada na missão, visão e valores. Projetos de coaching voltados para alta e média gestão, programas de treinamentos comportamentais e desenvolvimento para os colaboradores e equipe, ações de sensibilização e conscientização, como por exemplo saúde da mulher, ginástica laboral, outubro rosa, grupos de discussão sobre qualidade de vida da mulher, entre outros temas são sempre bem-vindos”, sugere.
“Acredito que as empresas podem desenhar políticas mais flexíveis em vários sentidos para motivar, engajar e reter homens e mulheres. Especialmente, no caso das mulheres e após a maternidade, a flexibilização de horários e dias de trabalho, possibilidade de trabalhar de casa, poder ir às reuniões da escola ou levar filhos ao médico sem culpa e proporcionar facilidades do dia a dia, como lavanderia, beleza que as ajudem a resolver pendências “operacionais” da vida e dos afazeres domésticos”, endossa Patrícia Serra.

Já as profissionais que se sentem descontentes devem fazer uma autorreflexão, segundo Ana Franco. “Reflexões sobre a empresa onde trabalha, as atividades que realiza, o cargo e a função que exercem são perguntas que devem ser realizadas com frequência. É extremamente importante saber distinguir o que quer e, principalmente, ter plena consciência daquilo que não quer. ”

Aos 27 anos a então advogada Carolina Nicolini resolveu fazer da paixão pelos animais sua profissão. Hoje, formada em veterinária, ela se diz realizada e muito mais feliz por conta de fazer o que ama e de ter obtido mais independência e retorno financeiro. “Estou extremamente feliz e realizada! Sou independente agora, escolhi uma área em que o retorno financeiro é excelente e isso me anima também, claro. Estou até abrindo minha própria clinica só para felinos. Sou mais confiante com meu trabalho, meus estudos são prazerosos e meu trabalho me deixa muito feliz. Isso levanta minha autoestima e me faz acordar sempre disposta, sem reclamar da vida.”