Usuários que têm Netflix mas que não assinam TV paga praticamente dobraram em um ano; longe do pico de crescimento, plataforma “criou novo mercado”, crê consultoria CVA Solutions
Antes visto como ameaça, Netflix já é tido como parceiro por empresas de telecom e fabricantes
HENRIQUE JULIÃO • SÃO PAULO
Publicado em 20/09/18 – Jornal DCI
De 2017 para 2018, a mordida da Netflix sobre o mercado de televisão por assinatura brasileiro cresceu. Entre 7 mil entrevistados pela consultoria CVA Solutions, o percentual de consumidores que não tem TV paga, mas assina o serviço de streaming de filmes e séries passou de 8% para 15%.
No mesmo intervalo, o contingente que possui contratos de TV paga sem assinar o Netflix derreteu de 42% para 25%. Já aqueles que possuem ambos passaram para 34% em 2018, ante 24% um ano antes.
No total, 59% da amostra se declarou usuária da TV por assinatura (frente 66% há um ano) e 49%, do Netflix (ante 32%). Para o sócio-fundador da CVA Solutions, Sandro Cimatti, os números mostram que o serviço de streaming de origem norte-americana ainda está longe de atingir o pico de crescimento no País.
“O Netflix chegou na parcela da população que não tem tanto poder aquisitivo”, observou Cimatti. “O mais interessante é que o serviço não está apenas roubando share [das empresas tradicionais], mas também avançando em domicílios que não tinham TV paga”, avalia.
Para corroborar a afirmação, Cimatti citou uma característica da parcela de consumidores que possuem apenas assinaturas do Netfix: entre eles, mais da metade (51,4%) afirmou nunca ter sido cliente da TV paga. “Está se criando um novo mercado”, pontuou Cimatti. Por outro lado, 48,6% dos clientes “exclusivos” Netflix chegaram a contar com a TV por assinatura, mas cancelaram o serviço.
Adicionalmente, um décimo dos clientes de TV paga ouvidos pela CVA afirmou que consideram, nos próximos seis meses, substituir o serviço por Netflix e similares.
Dados
O mercado brasileiro de TV paga encerrou o mês de julho com 17,828 milhões de contratos ativos, em queda de 289 mil acessos frente os verificados no início do ano.
Em um intervalo de três anos, a base de assinantes do serviço caiu 9,4%, o que representa a perda de pouco mais de 1,8 milhão de clientes desde julho de 2015. Apesar dos números, a entidade que representa o setor afirma que “o serviço ainda é desejado pelos brasileiros.”
O Netflix, por sua vez, encerrou o segundo trimestre de 2018 com 130 milhões de assinantes em todo o mundo. Executivos da empresa já colocaram o Brasil está entre os três principais mercados globais, mas a empresa não divulga números detalhados sobre a penetração no País.
Ainda assim, estudos de players especializados como a Ampere Analysis estimam que a base do serviço de streaming no Brasil tenha encerrado 2017 com 8,5 milhões de usuários. De acordo com diagnóstico da empresa de consultoria norte-americana, o Netflix pode encerrar 2018 com algo em torno de 10 milhões de usuários no Brasil.
A título de comparação, o maior player de TV por assinatura no Brasil (Net) encerrou julho com 8,9 milhões de contratos. No caso da vice-líder Sky, os contratos ativos somavam 5,2 milhões no sétimo mês do ano.
Apesar dos números, Sandro Cimatti vê a plataforma enfrentando um desafio extra na precificação. “Um terço dos clientes deles ainda dependem dos preços baixos”. Segundo o consultor, a empresa deve encontrar formas de aumentar o preço de mensalidades sem assustar clientes.
Hoje, as assinaturas do serviço no Brasil variam entre R$19,90 e R$37,90 mensais. No caso da TV paga – segundo a própria CVA Solutions –, o custo mensal por usuário foi de R$144 em 2018.
Apesar de rivalizar com o serviço, as empresas de TV paga tradicionais devem intensificar a busca por parcerias com o players de streaming, ainda de acordo com Cimatti. Passo nesse sentido já foi dado pela Telefónica (dona da marca Vivo): a empresa espanhola firmou, em maio, parceria de nível global com o Netflix.
Entre as vantagens associadas ao acordo estão a possibilidade de pagar os dois serviços em uma mesma fatura e a integração da popular plataforma com serviços de vídeo da operadora de telecomunicação. Além disso, alguns usuários da Vivo TV no Brasil já possuem um canal dedicado com conteúdo da Netflix dentro da grade de programação.