Folha de São Paulo – Custo pesa mais que milhas para ter cartão

Consumidores levam mais em conta valor da anuidade e juros do que eventuais benefícios na escolha do serviço. Para reduzir despesa, clientes aceitam ter menos promoções, serviços e facilidades no atendimento.

TONI SCIARETTA
São Paulo

Não vai demorar para que a atual disputa dos bancos em torno dos juros dos empréstimos se acirre também nos cartões de crédito.

Pelo menos é o que sugere pesquisa inédita segundo a qual, na hora de escolher o cartão, o consumidor está mais preocupado com o custo da anuidade e com os juros do rotativo do que com eventuais benefícios, como programas de milhas.

A pesquisa revela que, na média, fatores relacionados aos custos têm 52% de peso na escolha do cartão, enquanto os benefícios não passam de 42% (veja ao lado).
Ou seja, para pagar menos, o consumidor aceita ter menos promoções, recompensas, facilidade no atendimento e serviços incluídos.

O estudo foi conduzido em fevereiro pela consultoria CVA Solutions, especializada em aferir a percepção dos consumidores sobre produtos e serviços, e contou com a participação de 6.956 pessoas.
Pelas respostas dos entrevistados, a CVA constrói um mapa que revela como o consumidor avalia a relação entre custos e benefício.

Na média, cada entrevistado tinha 2,2 cartões e 86% disseram que costumam quitar integralmente a fatura.

A pesquisa também mostrou que o brasileiro não está totalmente satisfeito com o serviço de cartões. Em uma escala de 1 a 10, o setor conquistou uma nota de 7,14.

Entre os 33 segmentos da economia pesquisados, os cartões estão mais bem avaliados do que os bancos (nota 6,73), as empresas de telefonia celular (6,67) e os planos de saúde (6,54).

Porém, os cartões aparecem com avaliação pior que a de supermercados (8,48), seguros de automóveis (7,22) e hotéis (8,03).

De acordo com Sandro Cimatti, sócio-diretor da CVA Solutions, os consumidores tendem a avaliar negativamente os produtos e os serviços quando são obrigados a pagar anuidades, quando não contam com programas de recompensas ou quando suas compras são bloqueadas por falta de limite de crédito.

Por outro lado, quando o cartão é gratuito, as avaliações são bem positivas.

PONTOS CRÍTICOS

Para Cimatti, os bancos não deveriam aumentar o valor da anuidade e, se possível, não cobrar por ela porque são “pontos críticos” no momento da escolha.

“Também não adianta distribuir cartões e não oferecer vantagens para estimular o uso. O usuário que recomenda o cartão e faz uma avaliação muito positiva é aquele que não paga anuidade, tem recompensas atraentes, bom limite de crédito e sabe que ele será aceito na maioria dos estabelecimentos.”

PODER AQUISITIVO

Outra conclusão é que os cartões de banco privilegiam as pessoas com maior poder aquisitivo, oferecendo anuidades gratuitas e os melhores programas de recompensas.

“O cliente de menor renda também quer ter os mesmos benefícios, mas não consegue se não pagar”, disse.

Entre os bancos, o Itaú tem maior participação, com 26,6% do mercado, seguido por Banco do Brasil (20,6%) e Santander (15,3%).

No varejo, o Hipercard tem a maior participação (26,5%), seguido por C&A (9,7%) e Submarino (9,0%).