Brasil Econômico – Apertar é preciso. Ou não

Pesquisa revela os hábitos de consumo de roupas íntimas, o perfil e as marcas mais compradas pelos brasileiros nos últimos 12 meses

É disfarçando as indesejáveis gordurinhas que a indústria de roupa íntima no Brasil pretende ganhar mercado com itens de maior valor agregado. O segmento de modeladores — usados para reduzir medidas — vem ganhando destaque nas vendas. E a tendência, segundo uma pesquisa sobre o setor, é que a presença deste tipo de produto cresça ainda mais. O levantamento da CVA Solutions Pesquisa de Mercado mostra que 55,9% das mulheres com mais de 18 anos estão acima do peso, mas a taxa de penetração de modeladores não passa de 21%. Espaço não sobra para que fabricantes invistam em novos produtos. Em um mercado total de R$ 28 bilhões em vendas no ano de 2013, R$ 6,2 bilhões vieram de modeladores, informa a pesquisa, realizada entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014.

“Este é um mercado de 1,6 bilhão de peças, em que os modeladores ainda respondem por apenas 144 milhões de unidades. Por isso chama a atenção o percentual de mulheres acima do peso, com destaque para a faixa etária dos 30 aos 40 anos, com 51% delas com sobrepeso ou obesidade, em um período em que estão mais dispostas a comprar itens de lingerie. Podemos notar então que o chamado mercado de shapewear, que em outros países como os Estados Unidos é bem mais desenvolvido, ainda tem muito caminho a percorrer em nosso país”, comenta Sandro Cimatti, sócio diretor da CVA Solutions.

A pesquisa mostra que os modeladores femininos são encontrados em menos de 20% dos domicílios pesquisados. A projeção de 5% de crescimento do mercado como um todo ao ano no país nos próximos anos deverá se desenvolver justamente nesta categoria.

“O mercado de lingeries tem um bom caminho pela frente. Mesmo com um PIB baixo, vivemos um momento de pleno emprego, em que a população já busca novas formas de consumo. Os preços em segmentos mais maduros, caso de calcinhas, soutiens e cuecas, deverão se manter estáveis. Hoje, a média é de R$ 29,10, segundo a pesquisa. No caso dos modeladores, a tendência é de queda nos preços. Hoje, a média de preço está acima de R$ 59”, diz o responsável pela pesquisa.

Dentre as marcas que mais estão na cabeça dos consumidores, pela pesquisa, a DeMillus se destaca. Com venda em lojas de departamento e pelo sistema porta a porta, com 180 mil revendedoras, a marca também percebeu a necessidade de ampliar a linha de modeladores, de olho não só na necessidade dessa faixa da população como em seu poder de compra.

“O crescimento da categoria de modeladores está acontecendo no Brasil e no mundo. E a consumidora quer o efeito modelador, mas com aparência mais leve. O crescimento do poder aquisitivo também estimulou o consumo desse tipo de produto”, explica Eva Goldman, vice-presidente da DeMillus.

Segundo ela, a marca tem 13 diferentes modelos de modeladores à venda e esta linha responde por 3% dos 48 milhões de peças produzidas e 6% em valor de venda no momento.

“Temos 500 modelos à venda no total e somente 13 hoje são modeladores, de bermudas a camisetas e a cinturita, que ajuda a contornar a cintura e que custa R$63. Vamos ampliar este portfólio, claro, pensando na necessidade de conforto da consumidora”, destaca a executiva.

Sylvio Korytowski, diretor de Expansão HOPE Lingerie, uma das empresas que tem investido muito no segmento de modeladores, diz que, hoje, dos 880 mil produtos que saem da linha de fabricação da companhia, 9% são modeladores. E a tendência é ampliar este percentual, diz ele, sem revelar quanto.

“O modelador é um item que tem crescido muito. Não só por conta do sobrepeso da população. Eles estão mais confortáveis, com tecnologias que auxiliam na melhora da circulação, na redução de celulite. É um item de auto estima e temos estudado cada vez mais versões para ampliar o mix oferecido às consumidoras”, diz ele, que tem 119 operações no Brasil, entre franquias e lojas próprias.

Com relação a preços, Korytowski observa que, de fato, quanto maior a escala, mais o preço tende a cair.

“No entanto, nosso posicionamento de marca é para o segmento premium. Mulheres das classes A e B, dos 20 aos 40 anos. Vamos buscar o menor custo sem aviltar qualidade. Mas temos produtos para todas as faixas de preço. Este é um mercado que está em amadurecimento”, completa.

O fato de a maioria dos modeladores ser monocromático — ou preto ou bege — tem uma explicação, garante o executivo.

“O objetivo do modelador é ser básico e passar a ideia de que não está lá”.

A Duloren tem 40 tipos de modeladores. Do total de produtos da marca, eles correspondem a 45% do faturamento. Em 2009, a participação era de 10%. “De quatro anos para cá, houve uma procura enorme por essas peças”, comenta Denise Areal, gerente de marketing e estilo da Duloren.